Sempre corremos riscos. A franqueza é um grande
risco. Quando abrimos o coração corremos o risco de nos entenderem mal. Na
verdade é difícil equilibrar o emocional quando se desabafa, e carregamos
pequenas palavras com grandes sentimentos. É inevitável. Um coração angustiado
não sabe medir a força da explosão das palavras que invadem o ar e os ouvidos
e, provavelmente seremos julgados por isso: podia ter dito diferente, mas
destemperou – que pena?!
Quando Jesus chama os fariseus de raça de víboras,
Ele é muito pessoal, franco, direto, destemperadamente temperado de ousadia e
verdade. Ficaram ofendidos? É claro! Mas ainda era um grupo de hipócritas
nojentos. Os fariseus eram a elite religiosa da época e, aos seus próprios
olhos e dos míopes espirituais de seu tempo eram a nata da espiritualidade.
Muito bem, não estou chamando ninguém de fariseu,
mas observo uma miopia entre nós cristãos, que afeta muitos homens de Deus severamente
e muitos já estão enfermos.
Antes que digam que legislo em causa própria, digo
eu. Confesso que eu e muitos que dedicam suas vidas ao ensino da Palavra de
Deus somos vitimados pelo obscurecimento de entendimento que descreverei a
seguir.
Antes, observem os textos:
1Tim 5:17
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Os presbíteros que fazem um bom trabalho na igreja merecem pagamento
em dobro, especialmente os que se esforçam na pregação do evangelho e no
ensino cristão.
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1 Co 9:3Quando as pessoas me criticam, eu
me defendo, dizendo assim:4 Será que eu não tenho o direito
de receber comida e bebida pelo meu trabalho?5 Será que nas
minhas viagens eu não tenho o direito de levar comigo uma esposa cristã, como
fazem os outros apóstolos, os irmãos do Senhor Jesus e também Pedro?6 Ou
será que Barnabé e eu somos os únicos que temos de trabalhar para nos
sustentar?7 Quem já ouviu falar de algum soldado que pagou as
suas próprias despesas no exército? Ou qual é o fazendeiro que não come das
uvas da sua própria plantação? Ou qual é o pastor que não toma do leite do seu
gado?
8 Não pensem que eu me apóio somente nesses exemplos
da vida diária, pois a lei diz a mesma coisa.9 Na Lei de
Moisés está escrito assim: “Não amarre a boca do boi quando ele estiver pisando
o trigo.” Por acaso Deus está interessado nos bois?10 Ou foi
a nosso respeito que ele disse isso? É claro que isso está escrito em nosso
favor! Tanto a pessoa que planta como a que colhe fazem o seu trabalho na
esperança de receber a sua parte da colheita.11 Se temos
semeado entre vocês a semente espiritual, será demais se recebermos de vocês
alguma recompensa material?12 Se outros têm o direito de
esperar isso de vocês, será que nós não temos muito mais direito do que eles?
No entanto, nós não temos usado esse direito. Pelo
contrário, temos agüentado tudo para não atrapalhar o evangelho de Cristo.13 Certamente
vocês sabem que os que trabalham no Templo é do Templo que recebem os seus
alimentos. E sabem também que os que oferecem sacrifícios no altar recebem uma
parte da carne dos animais que são sacrificados ali.14 Assim
o Senhor mandou também que aqueles que anunciam o evangelho vivam do trabalho
de anunciar o evangelho.
Heb 13:17Obedecei a vossos pastores e
sujeitai-vos a eles; porque velam por vossa alma, como aqueles que hão de dar
conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos
seria útil.
Confesso que procurei algum texto na Bíblia que me
orientasse a pagar duplicadamente a músicos, mas não achei. A cantores gospel e
também não achei.
Creio que todos que fazem algum trabalho devem
receber por isso, mas vemos alguns desequilíbrios terríveis no comportamento da
Igreja de hoje.
É comum que se pague dezenas ou centenas de reais
para se ver um artista evangélico por sessenta minutos, e ninguém reclama que
está caro, mas quando há uma oportunidade de participar de um evento de ensino,
com 10 horas de ministração que abençoará com edificação, orientação, consolo,
revelação, instrução, cura, pensa-se que qualquer ‘Real’ é muito caro.
Um cantor com um CD pode cobrar milhares (muitos
milhares) de Reais para se apresentar e se esforçarão por trazê-lo e, no final,
todos ficarão satisfeitos. Mas, quando um pastor pregador ousa perguntar se os
convidantes estão pensando em ofertar algum valor, pensa-se em repor a gasolina
do pregador: “Olha pastor, isso é só uma gasolina. Queríamos dar mais, mas…”
Não sei bem o que é “gasolina”, deve ser algum papel-moeda criado apenas para
pastores. Um cantor recebe antes, senão ele não se apresenta, mas quando
se paga a um pregador, diz-se: “esta oferta é simbólica, porque o senhor merece
muito mais”.
Tentei fazer isso no supermercado mas não deu
certo. Disse ao caixa: “olha, esse valor é apenas simbólico da compra de
mantimentos que estou fazendo, ok? Sei que o Mercado merece muito mais, mas é o
que tenho para dar”. Não deu certo…
Tentei trocar uma calça em uma loja por um abraço,
bem apertado até, cheio de amor, gratidão e reconhecimento pela prestatividade
do vendedor, mas também não deu certo.
Fui ao restaurante e ofereci oração para que
pudesse comer lá, mas não aceitaram… Não sei porque???
Quando digo que não tenho carro, me olham como se
eu fosse um ET… Como assim??? Um pastor não ter um carro??? Como ele vai
atender as pessoas??? Pois é!!! Eu faço as mesmas perguntas. Alguns, com uma
expressão de “tadinho, mas ele é pastor, é assim mesmo”.
É curioso, mas acho que os que militam
exclusivamente no ensino da Palavra de Deus não comem, não vestem, não moram,
não podem ter carro, não tem filhos, não tem férias, não podem ir ao
restaurante com sua esposa, não dão presentes aos que amam, não compram livros,
Bíblias, muito menos computadores ou qualquer outro equipamento que lhe ajude a
aperfeiçoar seu ofício.
As necessidades dos que ensinam são reais e não
simbólicas.
Só por curiosidade, você sabe porque os grande
teólogos, produtores de conhecimento, que ajudaram gerações e gerações a
compreenderem melhor as Escrituras são estrangeiros? Na Europa e também nos
Estados Unidos há um grande investimento em homens de Deus que dedicam suas
vidas no aprendizado e no ensino da Palavra de Deus. Igrejas, Universidades,
Instituições, empresários grande e pequenos investem generosamente na vida de
homens que dedicam seu tempo no estudo e na produção de conhecimento. Estas são
culturas e nações que prevalecem sobre todo mundo, influenciando e exportando
conhecimento e tecnologia de todos os tipos.
A pobreza de entendimento e de investimento na vida
de mestres faz com que estes precisem se desviar de suas vocações, para
cuidarem de suas famílias, deixando uma ou várias gerações reféns de
conhecimento reproduzido ao invés de produzir conhecimento. Reféns de livros,
teólogos, ensinadores estrangeiros, que caminham em correntes teológicas que
ninguém sabe averiguar. Comemos enlatados importados de todos os tipos,
enquanto a maioria dos mestres que Deus tem chamado em nossa nação estão
agonizando em situações de escassez e na crise de não poderem dedicar-se
integralmente ao estudo e à produção de conhecimento.
Nossa mentalidade brasileira e evangélica (vou
evitar qualificar) supervaloriza o entretenimento (shows, cantores gospel,
etc), e despreza o conhecimento.
Se, pelo menos, as músicas de hoje fossem
carregadas de doutrina Bíblica, vá lá, mas não é assim. É claro que estou
generalizando. Há muitos homens e mulheres de Deus, que eu conheço, que são
dignos e cantam verdade eternas em suas canções, mas são exceções.
Tenho pregado em muitas cidades do Brasil
itinerantemente, e tenho sofrido esse mal trato. Não pior, tenho visto muitos
pastores em profunda agonia, tentando conjugar o amor e obediência ao seu
chamado e o destrato financeiro que precisa fazer sua família se submeter. Não
são poucos os filhos de pastores que dizem: “se tem uma coisa que eu não quero
ser é pastor. Para passar o que meu pai passa e fazer toda família sofrer?! Eu
não quero!”.
Quando vamos crescer???
Quando a Igreja Brasileira irá valorizar seus mestres como Deus ordenou???
Quando ela cumprirá a Palavra de Deus e honrará duplicadamente os que ensinam???
Quando atribuirá valor correto ao entretenimento e o valor devido ao conhecimento???
Quando a Igreja Brasileira irá valorizar seus mestres como Deus ordenou???
Quando ela cumprirá a Palavra de Deus e honrará duplicadamente os que ensinam???
Quando atribuirá valor correto ao entretenimento e o valor devido ao conhecimento???
Não tenho respostas, estou apenas desabafando.
Paulo Moral, pr
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